Uma das grafiteiras mais jovens de São Paulo é fã de Restart, a banda de pop rock que despontou na internet e virou febre entre adolescentes. "Cortei o cabelo assim em homenagem ao Lanza, o vocalista", admite Bianca Trevisan da Silva, 11. A tribo de fãs do quarteto é conhecida como a dos coloridos (pós-emo). Ídolos e admiradores abusam das cores fortes, voltando aos fluorescentes que fizeram sucesso nos anos 90.
Para Bianca, que começou a grafitar há três anos, a cidade precisa exatamente disso: mais cores. "Só cinza não dá. Nos dias frios, sinto falta do amarelo do sol e dos outros tons que a gente usa no grafite."
Foi numa fria tarde de sábado que Bianca e outras quatro grafiteiras se encontraram no Tatuapé (zona leste) para desenhar "a cidade dos sonhos". Elas imaginaram uma São Paulo mais colorida, recortada por trilhos de trem e metrô e habitada pelas bonecas estilizadas com traços estilo mangá (quadrinhos japoneses). O desenho é marca registrada do grafite paulistano, sobretudo quando a assinatura é feminina.
Ana Carolina Mesaros, 23, a Tikka, ídolo de Bianca, participou do desenho coletivo. É outra que mergulhou cedo no mundo da arte de rua. "Comecei aos 15. Lembro bem do meu primeiro desenho, num muro da Barra Funda", conta Tikka, que hoje organiza eventos no Centro Cultural da Juventude, projeto da prefeitura na Vila Nova Cachoeirinha.
Obra que dura pouco
Amanda Dória (ou Pan), 27, é professora e grafiteira há nove anos. "A gente sabe que nossa obra pode durar pouco e fica meio triste quando vê que cobriram, mas faz parte", explica. "O Kassab mandou apagar desenhos feitos há mais de dez anos na 23 de maio. Faz parte do trabalho do artista intervir no cinza dos caminhos cotidianos das pessoas", diz Zeila Trevisan, 32, mãe de Bianca.
Para fazer grafites em muros públicos, é preciso obter autorização da prefeitura. Em 2008, uma empresa contratada pelo executivo municipal cobriu um trabalho de quase 700 m2 feito por um grupo de artistas, incluindo Osgemeos, o que gerou protestos e o convite para os artistas refazerem a obra. Neste mês, a prefeitura anunciou que vai pintar os pilares do Elevado Costa e Silva (o Minhocão) com tinta antigrafite.
Às voltas com os preparativos para a festa do pijama que organizaria em sua casa naquele Dia dos Namorados, a mais nova do grupo tinha pouco tempo para falar sobre o futuro. "Gosto de pintar, mas meu sonho é estudar guitarra. Tenho uma banda e quero fazer sucesso. Posso ser artista plástica também, como profissão. Não sei. No momento, só quero ir para a minha festa."
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